1. |
Quem pudera ter sido?
05:00
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Um homem sentado
aguarda um trem que nunca passa.
Ninguém o mira;
ninguém se para.
Já há pássaros que aninham ao seu lado.
Medrando o musgo nos seus sapatos.
A chuva lava um a um os seus passados
que se lhe escapam por entre os charcos.
Papéis dobrados que assentaram uma pata;
neles pintados a sua cara.
E isso cuspe-lhe por dentro...
Um dia mais,
e assim fai-se tão ausente.
E isso cuspe-lhe por dentro...
Um dia mais,
farto de apertar os dentes.
Quijo esquecer de um golpe todo o aprendido:
Saber-se novo, estrear embigo.
Abriu-se ao mundo fechando os olhos.
Entre os seus dedos pousou-se um sonho.
E a sua cara esboçou de novo alegrias
mentres sonhava que era a sua vida
Por um instante, viveu o que olvidara.
Mais recordou-se...
que o trem não passa
E isso cuspe-lhe por dentro...
Rematou o entroido na terra dos sonhos.
Caiu a fachada,
tão só o seu corpo.
Era tão frágil, tão distante
como uma veia sobre um diamante.
Quem pudera ter sido o teu sonho?
Quem pudera ter sido o teu trem?
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2. |
Intro Far West
00:57
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3. |
Far West
04:18
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Um balaço contra o bardo.
Ruído de ruínas
O Xamã não é sagrado
Os queixumes são suicidas
Eucalipto: bardo insone
País porno, país podre
As gaivotas já estão cegas
Apaches na reserva
Borracho, o xamã vai fechando nos bares
Regressa tarde a casa
É o bardo das idades
Que não há celtas rudes, não
Só pacíficos apaches... só pacíficos apaches
Buscando asilo tranquilo para o bardo
Uma pensão digna para jubilados
Chupeta e tele e alguma que outra droga
Que ainda lhe lembre o confim dos verdes castros
Que dim os rumorosos
Ai! na costa verdecente?
Não dim nada de nada,
E o bardo pró psiquiatra
Rostro pálido, a voz
E a derrota, outra mais
Clausurando as aldeias
Fumando a pipa da paz
Que não há celtas rudes, não
Só pacíficos apaches... só pacíficos apaches
Buscando asilo tranquilo para o bardo...
Rostro pálido promete obras e progresso
Natalidade dos índios baixo zero
Melhor a esterilidade ao extermínio
O apache escolhe sempre a dignidade do suicídio
Voltemos à anestesia urbana do futuro do bardo
Gravarei de epitáfio na tua tumba uma flor
Texto baseado no livro Far West de Carlos Negro
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4. |
Abro a janela
03:48
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Abro a janela:
Movo o meu corpo ao ritmo que define o vento.
Vagabundeio,
sem esperar ninguém e nada...
Nada que me torça.
O caminho já não era reto.
No destino de pronto há algho que me atrapa...
Vou cara a ele.
Já não sou o dono do meu corpo
frente a ti...,
roçando-te suave a mirada
Encontrei nos teus olhos o caminho:
Sem equipagem eu na estação que não contava,
e eras tu quem me aguardava.
Abro a janela e bailo com as moscas que entram na casa.
Lava-me a chuva e bebo-a empapado
com os braços abertos,
e admiro de ver-me cantando-lhe à lua...
e salta que salta
abraço-me o vento e sonho na hora de estar-te por dentro
É sonhar...
O momento em que os meus dedos rocem.
A tua pele.
Seguir conscientes no teu corpo.
É roçar...
O momento em que os meus dedos sonham.
Abro a janela e bailo com as moscas que na casa entram.
Lava-me a chuva e bebo-a empalmado
com os braços abertos;
e fantasio em poder-lhe roubar a saia às tuas pernas.
Abraço-me o vento e sonho na hora de estar-te por dentro
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5. |
Só uma noite não é nada
04:02
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Passou-nos a noite:
“Ergue-te meu bem e vai-te.”
Foi de ver ao longe,
perder-se o teu rosto,
que se me borrou a cara.
Perdeu-se o teu corpo,
detrás dele a minha sombra;
foi-se prá tua casa.
Escapou-me a sombra,
borrou-se-me a cara
Fugiria com a tua vida
a qualquer lughar do mundo
É pensar só no teu cheiro,
molho o pantalom por dentro
À luz da vela,
que eu quero fazer-me na noite estrela
Sonho bicos nas tuas pernas
já alumio
Uma noite no moinho
Uma noite não é nada
Uma semaninha inteira
Quem me dera uma semana
Uma noite no moinho,
na tua cama ou num caminho
E uma semaninha inteira
Comendo na tua vieira.
Comendo na tua vieira
passaria a vida inteira
Acendo um cigarro
Com erva da minha casa
Uma calada, ou dá-me um bico
Saberás que...
fai-me falta
E uma língua como a tua
é sentir como me ponho:
acende-se-me o corpo
E uma língua como a tua
Que te, que te...,
que te sonho
uma noite, se te tenho...
Uma noite no moinho
Uma noite não é nada
Uma semaninha inteira
Quem me dera uma semana
Uma noite no moinho,
na tua cama ou num caminho
E uma semaninha inteira
Ainda que só na tua beira
Ainda que só na tua beira
Passaria a vida inteira.
E uma noite não é nada,
Nada, nada, nada, nada
E uma semaninha inteira
Ainda que só na tua beira.
Ainda que só na tua beira
passaria a vida inteira.
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6. |
Cruzei mares
03:45
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Meu amor, ai! por te ver(e)
cruzei rios, cruzei mares
e a piques de me perder(e)
Agora estás na ventana
com a ponta do pano fora,
não te quero ver o pano
quero ser a tua boca
Pra vestir só um xersei debaixo de uma manta,
arrinquei-no da pel.
Não te fazia falta
O teu refaixo, querida
Por amor ao teu refaixo
esquecim a minha vida...
por amor ao teu d'abaixo
Quando te vi o justilho
pretendi de ser cordão(e)
pra desatar-me de golpe
perto do teu coração(e)
pra desatar-me de golpe
Abriu o aro que sustinha o calendário aos dias
e juntas foram-se voar as nossas folhas
Superou a lua a timidez da cara oculta
e retratou na tua pele a minha boca
O mar não deu borrado o molde dos teus pés na areia
Ficou nas tuas pegadas bailando a espuma
Renegou cansada de dar voltas esta terra
e agora eu contigo aprendim dela
Meu amor, ai! Por te ver(e)
Meu amor por te tocar(e)
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7. |
Mil sorrisos
03:01
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Sempre foste a neve que cai no inverno
refrescando, renovando o meu lugar.
Deixei-te coalhar,
deixei-te pousar entre as minhas mãos.
Bebo a neve para ter-te dentro sempre
fundida no interior.
Eu descalço e as mãos frias
sem palavras..., que me ardeu o coração
É que te quero tanto...
que me sangram os dedos
de rascar as paredes escrevendo o teu nome,
desenhando o teu pelo
É que te quero tanto...
que até a minha lefa
traça um sorriso
quando te imagino
É que te quero tanto...
que me sangram os dedos
de rascar as paredes escrevendo o teu nome...
E sonhar mil sorrisos...
E sonhar mil sorrisos
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8. |
Só queria repetir
05:08
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Apalpei-me, por todo o corpo
Para ver... se sou tão amorfo
Talhei cortes nos braços...
O meu assombro, que ainda morto sangro
Que é o que passa? Sem dar palavra,
já não me queres mais na tua cama
Agora durmo nos nichos,
sou a morada de um cento de bichos
O esterco corre por dentro de mim
Levo o xurro nas veias desde que nascim
Por isso as horas deixaram-me estar
Será por amor a ti!
Já vem o tempo do linho maçar
e entre as tuas pernas...,
Quero recordar.
Sonho que entras, sabes como me pões.
O vento norte... necessito calor.
Cai a tarde, ouveio como um cão
Sai a lua, e o teu que escapa amor
Au, Au, Auuuuuu
Esfreguei, no corpo um tojo
lembro as tuas unhas polo meu escroto
E ao arrincar-te de cara poro,
às apalpadas saltaram piolhos
O esterco corre por dentro de mim...
Já vem o tempo do linho maçar
E entre as tuas pernas...,
Quero rebentar.
Sonho que entras, sabes como me pões
O vento norte... necessito calor.
Se não te encontro tenho que me tocar
Sai-me do corpo e fai que ladre ainda mais
Guau Guau Guau
Escuto um berro, andas ai?
Só era o vento que me insultava
Eu só queria repetir
um pouco de erva na tua cama
Tu vais, cara adiante
Eu vou-me agarrando
Vem-te, que voamos
Coração que arde
Se os sonhos cobram vida
Não quero polícia
Sonhos de liberdade
Não não quero militares
E os sonhos cobram vida
Se me comes a pixa
Sonhos de igualdade
Se te como as metades
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9. |
Às vezes perdim-te
04:07
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Passo a passo. Para onde vou?
Tirei a orientação,
perdido ando...
Por seguir, andei
e deixei-me levar...
vem comigo o rio a outro lugar
As nuvens, por me guiar,
de quando em vez,
escrevem no céu o teu nome exato
Perto de ti,
por um casual,
uma farola acende ao eu passar.
E aqui já estive;
estou dando voltas.
Ai! esta esquina
não me abandona
E aqui já vinhem;
ando sem rumo
aperto os dentes
foi-se o teu mundo
Sonho que te encontro
e volto a te perder.
Vazios os meus passos do destino
Merda, de novo.
Volto fumar
Fugiu sem mim o rio ao teu lugar.
E aqui já estive;...
Às vezes o dia passa e não sabes que foi:
Se veio, marchou ou espera
reparei no caminho por ver se eras tu,
e nem debaixo das pedras
Até abrim, por te ver, se estavas no jornal,
sentado eu nas esquelas.
Estarei nas esquelas
Estarei desgarrado sem ti
Estarei nas esquelas
Estarei destroçado sem ti
Estarei nas esquelas
Estarei na esterqueira sem ti
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10. |
Atacado de piolhos
04:40
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Cagho em tudo...
Encontrei-me de novo os teus piolhos
Eu que tinha decidido
Deixar de falar com os bichos
Dizem-me que já não
Que em ti não tá o meu odor.
Que já tão de picar
fartos de em ti me buscar
Cagho na história,
de ti não chegham mais novas.
Os piolhos decididos,
Vêm traficar comigho
Querem vir-se vivir
Diz que ainda cheiro a ti
Desta vez, que mais dá,
Sinto que... talvez, quiçá
Agora residem na minha cabeça
Que vou fazer?...
Eu ainda são pedaços dela.
Levo dentro do pantalom a tua ausência,
vai-me arrincando o coração e mais a verga
E assim, e assim, e assim...
Bebo dos charcos
que pisaram
os teus sapatos
Trás da tua pista
Vou mijando
nas esquinas
Trouxe-me o vento
Pra snifar,
O teu alento
E secaram-se-me
até as bágoas
De tanto usá-las ai ai
De tanto usá-las ai ai ai
De tanto usá-las.
Meto-me canha
Estou farto
de andar às aranhas
Saio em pelotas ao mundo
A ver se me cai o musgo
Ainda bem que não vou
Com os meus pés ao teu rincão
Começa a cicatriz
a sangrar de tanto fingir
Ainda residem na minha tristeza
Atormentando-me sem mais, querem ir ver-te
E assim, e assim, e assim...
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11. |
Um livro estranho
03:34
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Quero arrincar-me a pele a cachos
E saber, por dentro, se é para tanto.
Onde aninha ou onde tá o meu lagharto?
Meus bichocos por aí, dentro do corpo
Como ter insetos que me sobrevoam
não se tocam, não se veem,
vivem no fondo.
Que não, que não, que não,
é a minha própria trampa
Que não, que não, que não,
abrim-lhe a porta da jaula
Que não, que não, que não
não sai nada,
não há nada?
Que não, que não, que não..., ou sim?
Uma flor,
alguém me trouxe uma vez uma flor.
Recordar fragmentos,
pequenos troços da tua voz
Agora quer escapar o meu lagharto,
Meus bichocos por sair fora do corpo
como um verso familiar num livro estranho
berram mais,
sonhei em ti,
volvim-me louco
Que não, que não, que não,
Calai a boca
Que não, que não, que não,
Deixai-me tolo
Que não, que não, que não
Não há nada
Que não, que não, que não
Não me falam
No meu sonho estás
e não me deixam ver-te
não há nada que fazer(e)
Que m'hei d'arrincar(e)
os restos do mal(e)
Todo o mal(e)
q'hei de ter(e)
Calai a boca
Deixai-me tolo
Não há nada
Deixai-me tolo
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12. |
Hoje é por fim... nós
03:37
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Hoje chove mais da conta.
E deitado,
o piso serve de cama
Água que filtra polo telhado.
Gota a gota
as pegadas do meu barro
De ti tenho só um xersei e recordos
e há tanto tempo que tenho ambos rotos
Na minha pele a prenda que de ti conservo
pra que me reconheças agora que vou velho
Hoje deixei as portas abertas,
ao meu lado
voam moscas aos meus lábios
Água que esbara na minha cara
abraçado a ti por fim:
lágrimas que me aguardavam
Pouco a pouco vão-se fechando os olhos
o último alento, que és tu de novo
Abraço-te forte, ninguém já nos separa
tenho os meus dedos roçando-te a cara
Ai ai ai! Que me vou a onde estás
Aos poucos o alento que também se vai
Ai ai ai! Que por fim, já me vou
O tempo cansado de nós também se foi
Ai ai ai! Que me vou a onde estás
Aos poucos o alento que também se vai
Ai ai ai! Que por fim, já me vou
O tempo a nós, o tempo a nós já não nos dói.
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13. |
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Chegando a Mordor:
Uma perna tapa a outra
mas não tapa as feridas
que mancharam a tua boca
e não tapa os meus remendos…
os que vês e os que te oculto
serei eu tão pouca cousa?
Foi-se-me indo a alegria
quase habito na amargura
as penas, as penas, roubaram-me as penas,
as penas que me repúdiam....
foi-se-me indo a alegria
botei o anel ao lume
E em chegando eu a Mordor
mudei lágrimas por sonhos
decidim que me queria
mordim-lhe os colhões à vida!!
mudei lágrimas por sonhos
já alugara um quarto em Mordor
Não me espies para dentro
que fechei a minha porta
mete-te na tua vida
que a minha nada te importa
que fechei pra ti a porta
Vida minha, não te importa
E se quero a tua cara
farei dela uma escultura
com o que sobre dos meus pés
quando corte as minhas unhas
e farei uma escultura
Ai! de ti, com as minhas unhas
Agora já sou feliz
faço o que me dá na gana
um dia por decidir
outro por ficar na cama
outro por ficar sozinho
a minha vida sem ti…
E em chegando eu a Mordor...
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Berlai Rois, Spain
Berlai é música sem complexos. Bebe da tradiçom galega, do indie-pop, do rock e da música
electrónica.
As letras das cancións nacem como imagens obsesivas do universo galego: onde as berzas som urbanas, ou o milho necessita cintas de baliçamento policial.
Berlai é indie rururbano e assi se transmite nos dous discos de Berlai: Desconhecido e Cas Berlai.
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